segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Por vezes, sinto-me como um palhaço...

Quando chega o fim do dia e descarto as "cascas" que me envolvem, penso nas horas passadas, nas palavras ditas, nos pensamentos que tive e afastei, no que sou afinal.
As "cascas" que me cobrem o corpo, por vezes tintilam ao esfolar as mangas da camisa ou da blusa e arrastam as luzes do palco que é a vida.
As "cascas" da memória são mais lentas e por vezes dolorosas de tão encadeadas que estão umas nas outras, por me obrigarem a lembrar ou relembrar momentos e situações.
Felizmente tenho dias que sorrio do que fiz e disse, das piadas que contei, do alívio que dei às situações carregadas e complicadas que acabo quase sempre por ultrapassar.

É por isso que me sinto, às vezes, uma palhaça!

Quantas vezes disfarcei umas quantas lágrimas bem dolorosas para que o meu filho não se apercebesse, não ficásse também incomodado, não me perguntásse o motivo.
Quantas vezes me aperaltei e fui "laurear a pevide", apresentando um sorriso a quem comigo se cruzava, evitando demonstrar o meu mau-bocado.
Quantas vezes me enchi da maior boa vontade e acalentei alguém que estava deseperadamnte farto de viver....
Quantas veze, sem deixar de ser quem sou como pessoa, faço de conta, conto um conto e acrescento um ponto, saio do salto, pinto a manta e dou a volta por cima...
Quantas vezes... quantas vezes.

Hoje mesmo, ao sair da secretaria onde trabalho (mas que não é considerado "trabalho" no Centro de Emprego... mas esta bronca é outra página para breve), repeti o que vem sendo hábito à hora do almoço.
Os meus "patinhos" do Jardim de Infância, de cabecitas viradas para a entrada do refeitório e olhos arregalados, aguardam a minha chegada. Estão já habituados a que a todos, uns dez ou doze, sejam contemplados com uma festinha nas pernocas, uma careta brincalhona, um beijinho nos cabelos ou enviado pelo vento dos meus lábios.
Aos mais difíceis de alimentar explico os benefícios de comerem tudo para terem músculo, força, para crescerem fprtes e serem bonitos... como o menino grande que tenho lá em casa!
A princesa Inês, a chocolatinha Joyce, o "relvinha" Pedro, o bébé Diogo, a pequena Beatriz, tantos que devem ter muita coisa material mas manifestam falta de amor, de miminhos.
É incrível como aquelas crianças, de melhores ou piores ambientes familiares, demonstram apreciar a minha breve manifestação de carinho e brincadeira.
Quando não o faço, porque não vou ao refeitório, mais tarde vão espreitar-me através das grandes janelas, a chilrear como pardalitos sedentos de um pouco de sol.
Por isso e porque estamos no Carnaval, fui comprar uma "bandelette" de onde bamboleiam dois corações dourados cheios de franjas, como que dois sóis que vão dançar sobre a minha cabeça.
Amanhã a risota vai ser geral, é certo, vai haver reboliço no salão.
Sei que vou fazer uma palhaçada mas vamos todos rir e não há coisa mais linda que o sorriso de uma criança.

E é assim, lembrança encadeada, vou lá atrás no tempo e ouço as gargalhadas do meu filho quando eu lhe fazia cócegas, quando brincávamos... (devia ter tido mais descernimento para o preferir acima de tudo na vida e ter mais tempo para ele).
Hoje continua a saber-me tão bem ouvi-lo gargalhar, virado para o computador...

Cada vez me sinto com maior capacidade para esconder dores ou traumas e se isso é ser palhaço, eu não me importo, desde que viver pese menos e aos outros alivie a dôr.

Podesse eu aliviar-te a ti o incómodo pensamento!!!

"Pobre é aquele que não sabe rir de si mesmo".

Sempre com amor, eu vou voltar.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Quem gostará de mim?

Quando me aninho nas almofadas, com a mão esquerda espalmada no rosto, tal como nasci, embranho-me nos pensamentos mais recônditos da minha memória.
É lá no fundo dos meus cinco ou seis anos que recordo a minh avó.
Calçava-me os "soquettes" brancos de crochet. vestia-me a saia empregueada e a camisinha de muitos botões forrados.
Íamos de fim-de-semana para casa do meu pai, eu e o mano.
Durante anos vivi no meio de uma luta de quem gosta mais de quem.
Foi esse tipo de amor que durante muito tempo acreditei ser normal, o género "ou se ama ou se odeia". Era assim que o amor dos meus mais queridos se manisfestava, amando quem se deixava amar e odiando quem contestava determinado tipo de amor.
Assim a "família" se desmoronou, se separou, se afastou até poucos restarem em grupo.
Talvez por isso, tive sempre pavor de perder mais alguem, de não demonstrar todo o amor por alguém. Cheguei a achar não ser merecedora de ser amada, embora eu fizesse tudo por isso e amásse quem me rodeava.
Uns mais outros menos, sempre me adaptei a todos, me moldei a todos, me anulei para que alguém ou todos me amássem.
Engoli muitas lágrimas de solidão, em momentos em que me senti muito só e desfarcei muitos outros porque a "multidão" em meu redor perssupunha companhia.

A chamada solicão acompanhada.

Até um dia, porque há sempre um dia para qualquer coisa.
Esse "meu dia" chegou quando, ao retocar os olhos borrados de rimel e lágrimas, encarei o espelho e jurei passar a gostar mais de mim.

Foi assim, muitas vezes virada para o meu espelho que ultrapassei medos e angústias, ensaiando palavras e até controlando a respeiração, como que dando-me forças para os embates que cada dia tinha de ultrapassar.

Em tempos "rabisquei, "... a vida passou por mim, deixou marcas mas não tenho nada para contar..."
Hoje, mesmo com as marcas dos anos, eu gosto mais de mim, dou-me mais valor e desvalorizo "quem" e o "que" não me merece preocupação.

É difícil terminar parafrazeando algo já tão batido, mas verdadeiro...........

"Se não gostares de ti, que gostará?!"

Eu vou voltar.