segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Quem gostará de mim?

Quando me aninho nas almofadas, com a mão esquerda espalmada no rosto, tal como nasci, embranho-me nos pensamentos mais recônditos da minha memória.
É lá no fundo dos meus cinco ou seis anos que recordo a minh avó.
Calçava-me os "soquettes" brancos de crochet. vestia-me a saia empregueada e a camisinha de muitos botões forrados.
Íamos de fim-de-semana para casa do meu pai, eu e o mano.
Durante anos vivi no meio de uma luta de quem gosta mais de quem.
Foi esse tipo de amor que durante muito tempo acreditei ser normal, o género "ou se ama ou se odeia". Era assim que o amor dos meus mais queridos se manisfestava, amando quem se deixava amar e odiando quem contestava determinado tipo de amor.
Assim a "família" se desmoronou, se separou, se afastou até poucos restarem em grupo.
Talvez por isso, tive sempre pavor de perder mais alguem, de não demonstrar todo o amor por alguém. Cheguei a achar não ser merecedora de ser amada, embora eu fizesse tudo por isso e amásse quem me rodeava.
Uns mais outros menos, sempre me adaptei a todos, me moldei a todos, me anulei para que alguém ou todos me amássem.
Engoli muitas lágrimas de solidão, em momentos em que me senti muito só e desfarcei muitos outros porque a "multidão" em meu redor perssupunha companhia.

A chamada solicão acompanhada.

Até um dia, porque há sempre um dia para qualquer coisa.
Esse "meu dia" chegou quando, ao retocar os olhos borrados de rimel e lágrimas, encarei o espelho e jurei passar a gostar mais de mim.

Foi assim, muitas vezes virada para o meu espelho que ultrapassei medos e angústias, ensaiando palavras e até controlando a respeiração, como que dando-me forças para os embates que cada dia tinha de ultrapassar.

Em tempos "rabisquei, "... a vida passou por mim, deixou marcas mas não tenho nada para contar..."
Hoje, mesmo com as marcas dos anos, eu gosto mais de mim, dou-me mais valor e desvalorizo "quem" e o "que" não me merece preocupação.

É difícil terminar parafrazeando algo já tão batido, mas verdadeiro...........

"Se não gostares de ti, que gostará?!"

Eu vou voltar.

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