quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Porque temos medo de chamar nomes aos bois.....

Talvez a frase do título não seja ao estilo das palavras que aqui debito, contudo vem a propósito da minha indignação.
Recebi há dias um mail intitulado "O que nós tínhamos...".
Vinha de alguém que há muitos anos deixara a sua terra, fugido da guerra, mas sentindo-se sempre português, por ela ainda chora quando bate a saudade.
Abri os anexos que desfilaram dezenas de fotografias a preto e branco, cujas legendas datavam dos anos 50 e 60 do século que findou há escassos dez anos.

Portanto, fotografias com pelo menos meio século, uma vida!

Olhei-as uma a uma.
Luanda-Angola-Casino / Lobito-Angola-Hotel X / Luanda-Angola-Praia.
Enormes Avenidas, Baías deslumbrantes, enormes Hospitais, Escolas, Colégios, Cinemas de muitos andares, Praças com quatro ou cinco faixas de rodagem, Piscinas mais que olímpicas, Jardins verdejantes e bem tratados, Bancos...todos os que cá havia e até outros estrangeiros.
Mercados a abarrotar de produtos hortículas e peixes de várias paragens, carnes frescas.
Prédios, muitos automóveis, camionetas, comboios, num vai vem incessante de trabalho e negócio.
Gente e mais gente, brancos e muitos pretos, na sua terra natal......
Imagens de tantas cidades prósperas, civilizadas, modernas, pessoas bem arranjadas, naquelas paragens de clima tórrido.

É certo que mais para o interior, perdominavam os indígenas (naturais da terra) que talvez andasesem descalços sobre a terra quente, comiam as suas mandiocas e bananas e mangas e papaias e cabras e tudo o que a farta natureza lhes dava, isso mesmo, dava!, porque quase não era preciso mexer uma palha, nem cultivar. Só colher, apanhar, desenterrar.

Agora nas cidades! Não vi ninguém descalço, nem chicotes em riste, nem gritos ou tiros, nem crianças famintas nas ruas, nem andrajados pelas esquinas, nem pedintes à porta dos supermercados.
É verdade, já havia o enorme hipermercado Jumbo!

Realmente, a pequenez grassava aqui, em Portugal Continental!
Em Angola imperava a modernidade, o estilo e o chique (de quem podia para é certo), os ícones da música que lá já podiam actuar ( cá, nem pensar), as piscinas cheias de jovens e adultos que aproveitavam o dia do nascer ao pôr do sol.
Cá? Piscinas, algumas, mas só se nos federássemos para competição.
Ah, a tristeza bailava no nosso ser povo melodramático, obediente e aguardando o Sebastião.
Mas éramos e somos trabalhadores e sempre fomos muito acolhedores ou não tivéssemos ido por esse mundo fora e à posteriori não tivéssemos recebido todos os que vinham de tantas paragens....
As praias vibravam com últimos modelos de bikinis que eram proibidos.
Claro que sempre houve e haverá diferenças de classes, gente com mais e gente com menos (cada vez mais!).
Mas via-se organização, limpeza, belezas paisagísticas e urbanísticas, desenvolvimento e ordem.

Mas o povo estava muito mal, não era???
E aqui as portas se abriram para receber quem estava desesperado, fugido das bombas, das violações, do dente por dente, da Independência ... para bem daquele povo!

Hoje o mesmo povo, descendente daquele povo (não do que veio fugido para cá!) pode contemplar outras paisagens, fruto da igualdade implantada por eles mesmos, irmão uns dos outros, iguais.

Miséria, fome, minas, destruição.

Prédios esburacados, avenidas atulhadas de lixo, praias cujo areal é um amontoado de vidros e latas, mendigos, milhares crianças que dormem nas ruas sem família, abandonadas ou fugidas, comem dos caixotes do lixo, outros doentes, delinquentes, criminosos, corruptos, políticos, inimigos dos seus próprios semelhantes irmãos...........

Cadé? as piscinas? Viraram pocilgas onde os porcos e galinhas pastam....
Cadé? os hospitais? Existem poucos que suportaram trinta anos de guerra civil e os médicos e enfermeiros fazem esforços hercúleos para tratar sem medicamentos ou meios.
Ah! o mercado paralelo vende a preços proibitivos a maior parte dos donativos que o mundo opressor e colonialista continua a enviar-lhes............
Paralelas à miséria, erguem-se faustosas vivendas, condomínios fechados, guardados por "gurilas" armados e de óculos escuros Armani...
As avenidas com grandes árvores? São um amontodo de carros enferrujados, abandonados, depois de usados, quem sabe se daqueles transformados que da Europa desaparecem......

Mas há Liberdade, "Kafuné", muita Dama, "baita" sexo, muita curtição, muita sida.....
Mas ainda há quem tenha um fato branco, uma pulseira amarela, um sapato preto, um rádio portátil ou um mp3, umas "bjecas", umas garinas de saia curtinha, leggings de lycra, soutient sexy e bunda de fora........

Trabalhar doi muito, por isso as semanas quase sempre são de 3 dias.....

Mas continuam a dizer mal do que lá foi feito e por lá ficou.....até destruirem tudo!

Não me venham pedir satisfações nem donativos, porque eu não dou!

Eu nunca fui a África!
Mas acredito naquele cheiro que me dizem vir da terra e imagino aquele sol que dizem ser maravilhoso, quando vai dormir no horizonte........

Contudo não troco nada pela minha linda Lisboa!
Branquinha ou prateada quando o mesmo sol acorda ou também se deita ao lado do Bugio...

Eu já não acredito no Sebastião, nem no Pai-Natal!
............nem na carochinha e muito menos no Lobo Mau!

É isto que hoje deixo para pensar e eu vou voltar!
Tchau.

1 comentário:

Anónimo disse...

... para ir a África basta passar ali pelos lados da Amadora. Qualquer dia torna-se num Estado Independente.