sábado, 9 de maio de 2009

Hoje eu fui à feira

Já chovera bastante, o céu ainda estava cinzento, carregado.
Montaram as tendas durante a madrugada e alguns passaram pelas brasas.
O chão secara, estava calor e as pessoas apressadas nas suas compras, embaraçadas pelos sacos dependurados nos braços, despiam os casacos e os Kispos.
A manhã a mais de meio, já cheirava a bifanas, churros e pão quente com chouriço, vendidos nas roulottes, transformados em lotados snacks com esplanadas circundantes, delimitando o espaço comercial.
Nas bancas, as mãos dos "mexilhões" chafurdam na incessante busca de algo que sirva ou agrade.
Pululam os mirones e os pretensos compradores.
Convidam-se os indecisos a aproximarem-se ao som do pregão:
"Freguês venha ver, é só cinco Euro, este aqui é dois"
"Malas liiiinnnndaaaas é de griffe"
"Olha a t-shirt da moda"
"É da Kitty, é Guccy, é Prada, é tudo original"
"É só comprar,vamos freguesisa"
Vozes mal dormidas de homem e de mulher cansada, certamente.
As nossas bolsas estão pouco abonadas de dinheiro.
Os cartões, esgotados, ali não servem para nada.
Mesmo assim, esperamos comprar qualquer coisita que anime o fim de semana, que faça sorrir o filho com roupa nova, que nos faça sentir bonitas com uns sapatitos frescos de verão.
Entre a exposição dos mais variados produtos e as carrinhas, dispensam-se os vendedores, mulheres, quase todas ciganas, de filho ao peito (ou à mama), bolsa suspensa à barriga e olho na mercadoria, não vá ela desaparecer pela mão do cliente sempre sério...
Os putos quase sempre descalços, choram, correm, brigam, pedem comer e não são parcos a pedir e também elas não se coibem de dar tudo pelos filhos.
A criança filho de cigano, não deve ter faltas, não deve ser castigado, pode gritar, pode espernear.
Pode porque os pais acreditam que até aos sete anos, o seu espírito é livre e deve crescer sem excessivo controlo que o faça infeliz.
Pergunto se depois disso será possível controlar os ímpetos do que quer e do que pode ter.
Mas as mães são indubitavelmente carinhosas, controladoras e soberbas das suas crianças.
As raparigas, quais misses desfilando suas toilettes e penteados, creio aproveitarem para se mostrarem aos possíveis noivos.
Os rapazes mais velhos, ajudam na venda e nos estridentes pregões.
Os homens observam, encostados às viaturas ou aos carrões que alguns já ostentam.
Outros deambulam mais afastados, controlando o vai e vem das gentes, em grupos, falam de negócios, das viagens pelo país, do custo das mercadorias nas fábricas, dos milhares gastos e do que ficará de lucro no fim.
No meu silêncio penso realmente quanto sobrará depois de venderem tanta coisa a um ou dois euros e depois de pagarem tantos cachorros, refrigerantes, febras, cervejas, croissants, cafés, hamburgueres, galões, bolos, pão com chouriço, chocolates, pacotes de leite...
E os impostos, será que pagam impostos ou só recebem subsídios?

Olho os anciãos, vestidos de negro para sempre...
... de longas barbas matizadas de branco, que não cortam...

Ufa!
Pirei-me porque o sol voltara radioso, estava muito calor.
No meio de tanta coisa, de tanta porcaria, para mim muito deveria ir para o lixo ou nem sequer autorizado a saír das fábricas!
Se eles vendem produtos contrafeitos, são perseguidos e multados.
Não deveriam antes os fabricantes contrafactores serem controlados na sua produção, não permitindo a saída desses produtos?
Um pouco de tudo ou nada como o que vem (ou vinha?) da China ...
... sem costuras ou baínhas, mal colados, tecidos torcidos, malas mal cosidas, tingimentos mal feitos, perfumes que a nada cheiram, chapéus que encolhem com chuva, camurças feitas de papel, roupa de mulher que nem serve a criança, calças que parecem plástico, calçados que cheiram a chulé e produtos de alimentação que desconheço terem sido controlados pela ASAE ...

A feira continuava abarrotada, os centros comerciais logo também estarão cheios...
Vergonhosamente continuamos o país da Europa com menores ordenados, com menor poder económico e não falemos mais de crise...

No recato da minha casa respiro fundo.
Se é espanhola não sei, mas deleito-me agora com uma laranja sumarenta e doce que me refresca e mata a sede.

"Quanto mais souberes sobre o passado do teu país, melhor entenderás o seu presente"

Amanhã vou ver o mar................................

Sem comentários: